top of page

Papo cabeça

Era uma vez o historiador?

Era uma vez o historiador?

Publicado em 09/11/2020, por Maria Eduarda Florêncio – Papo Cabeça – CRA News.

     Olá, queridos profissionais do futuro, nesta quarta edição do CRA News, abordaremos a esquecida, porém importantíssima, profissão de historiador. Na verdade, até algumas semanas atrás, não poderíamos dizer que historiador era uma profissão. Foi regulamentada pelo Senado, no dia 19 de agosto, a profissão de historiador. Demorou, mas aconteceu. De acordo com o site "Guia da Carreira", o historiador estuda, analisa e pesquisa acontecimentos do passado e seus impactos atuais. O site também informa que o Brasil oferece um amplo campo de atuação para o historiador, desde professor em instituições de ensino privadas e públicas, até o mercado editorial e empresas que queiram fazer resgate de memória corporativa.

     No "Papo Cabeça" desta edição, nós convidamos a renomadíssima professora  da Universidade Federal de Alfenas (Unifal-MG) e pesquisadora de diversas áreas, Marta Rovai. Ainda nesta seção, faremos um recorte sobre práticas e regimes ditatoriais, algo que vem sendo bastante citado atualmente. Esse tema, tão familiarizado pela convidada, há de ser debatido e conversado e, pensando nisso, trouxemos ao CRA News.  Confira a entrevista:

​

Maria Eduarda: Qual sua formação profissional?

Marta Rovai: Bom, eu estudei em escola pública todo o ensino básico. Depois, fiz faculdade de história na PUC de São Paulo e pós-graduação em ciências sociais. Em seguida, fiz meu mestrado em história, trabalhando a juventude no governo Vargas, ainda na PUC; fiz também meu doutorado em história, mas sobre a Ditadura Civil-Militar, na USP, e, o pós-doutorado, eu o fiz na Universidade Federal Fluminense (UFF), só que abordando os Congadeiros de Minas Gerais.

​

Maria Eduarda: Você se considera uma historiadora? 

Marta Rovai: Sim, eu me considero uma historiadora, eu tenho pesquisado, tenho diversas pesquisas, vou às fontes, vou aos arquivos, e também considero que todo o professor de história é um historiador, pois todo professor de história, para dar sua aula, também pesquisa. É uma pesquisa diferente, mas também o considero historiador.

Maria Rovai.jpg

​

Maria Eduarda: E qual o papel dele atualmente na nossa sociedade?

Marta Rovai: Peter Burke, que é um historiador britânico, disse que o papel do historiador é lembrar aquilo que ela quer esquecer. E eu acho isso, que o historiador é um tipo de provocador, um mediador do passado e do presente, que, na verdade, não estão separados, pois o passado está sempre presente. Só pensamos no passado quando alguma coisa nos incomoda no presente. Então, acredito que o historiador seja um tipo de mediador que precisa lembrar a sociedade daquilo que ela tem de enfrentar e das permanências da história. Hoje, o historiador precisa lembrar a sociedade que ela é a responsável pela permanência do racismo, do machismo, das práticas autoritárias.

​

​

Maria Eduarda: Nesses últimos tempos, os brasileiros vêm mencionando, diversas vezes, a forma ditatorial militar em que o Brasil foi governado durante 21 anos como algo positivo, um “milagre”. O que você pensa disso?

Marta Rovai: Primeiro, nós temos que lembrar que toda a ditadura, seja de esquerda ou de direita, é um mal. O próprio Bobbio, Norberto Bobbio, que é um cientista social e político, disse que certos grupos exercem a lei para destruir a democracia, pois o Poder Executivo acaba desequilibrando os outros dois poderes. Se a gente pensar na ditadura Civil-Militar - e é “Civil-Militar” porque houve um apoio muito grande dos civis no golpe e no sustento da ditadura, e, se falarmos apenas Ditadura Militar, retira-se a responsabilidade dos civis que aceitaram e apoiaram a ditadura -, as ditaduras são regimes extremamente graves, posto que um grupo se apropria da ideia do direito para violar outros direitos. No caso do Brasil, em 1964, quando o golpe foi dado, não foi contra o comunismo, João Goulart não era um comunista, ele mesmo se definia como um capitalista democrático, mas que defendia a reforma agrária, então, havia algumas reformas em curso, no Brasil, que alguns grupos se colocaram contrários a elas. E, para conseguir barrar essas reformas, foi aí que houve o golpe e a instalação de uma ditadura sim, em que os partidos foram extintos; houve o AI-5; o presidente poderia cassar direitos, suspender, aposentar; as pessoas não tinham direito ao "Habeas Corpus", ou seja, se você fosse preso, não conseguiria responder em liberdade se o governo não tivesse provas contra você; houve “desaparecimentos” que, na verdade, eram assassinatos de pessoas, e não importa o número, porque tem gente que defende que não teve ditadura, pois não foram 30 mil mortes, não é o número que importa, e sim a violação da vida. Houve muita censura nesse período, eu estava conversando com uns alunos sobre a pandemia da meningite que o governo militar escondeu da população; colocava-se poesia de Camões, receitas de bolo no jornal, no lugar de noticiar o problema da meningite. Assim, não há nada de positivo num regime que censura, que escolhe quem deve morrer ou viver, que escolhe quem deve governar, pois não havia nenhuma eleição. A ditadura viola inúmeros direitos, eu mesma entrevistei pessoas torturadas e acredito que todos deveriam ouvir relatos dessas pessoas antes de falar que a ditadura foi algo positivo.

​

Maria Eduarda: E por que isso acontece? Por que as pessoas acham que é algo positivo?

Marta Rovai: Acredito que porque nós temos trabalhado muito pouco o enfrentamento do passado. Muito desse discurso se deve por uma forte ignorância por parte da população que não conhece o seu passado e acaba acreditando nesses discursos que simplificam a história, que banalizam a morte e o sofrimento. 

​

Maria Eduarda: Você acha que a falta de comunicação com o passado também causa essa ignorância? Nós não temos, por exemplo, um museu da ditadura ou da escravidão, você acha que isso contribui com o discurso pró-ditadura? 

Marta Rovai: Nós passamos, nos últimos anos, pelo que a gente chama de "justiça de transição". O que é uma "justiça de transição"? É justamente a transição do período do fim de uma ditadura até a construção da democracia, e isso toda a América Latina tem passado, não só o Brasil. Nesse período de "justiça de transição", o Estado deve assumir políticas públicas que estimulem justamente o conhecimento desse passado. Nós tivemos uma geração que não foi formada com essas informações, por exemplo, na minha época do colégio, a gente não discutia ditadura, chegamos, ao máximo, até o governo Vargas, então houve uma brecha muito grande na minha formação. A gente teve que correr atrás disso já na Universidade, a minha geração é a das “Diretas Já!”. Isso tem sido construído nos últimos anos por alguns professores. Muitos professores não têm, de fato, essa formação, desconhecem. Dependendo da universidade, também pode não ter sido discutido lá. Mas há muitos professores começando a fazer esse trabalho. Nós temos a criação de alguns lugares que lembram e recordam a ditadura. Há uma pressão dos historiadores para tombar o DOI-CODI, que era um lugar em Minas Geria onde se torturavam pessoas, e o transformar em memorial. Assim como em São Paulo, existe o Memorial da Resistência que era um antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) e foi transformado em memorial. Existem várias tentativas, assim como no Rio de Janeiro, que querem derrubar a Casa de Petrópolis, também conhecida como casa da morte, e quem ia pra lá praticamente ia pra morrer. Só se sabe da existência dessa casa porque uma presa fugiu, a Etienne, e ela denunciou essa casa. Isso tudo ainda está sendo pesquisado muito pelos pesquisadores. Então hoje, na academia, ditadura militar é um tema muito pesquisado. Nós temos um site (www.memoriasdaditadura.org.br), caso queiram dar uma olhada, só fala da ditadura. Mas isso não tem chegado às escolas, porque temos ainda  uma concepção conservadora que acham que isso é “comunismo”, o que não tem nada a ver. Eu entrevistei mulheres, que não eram militantes, não eram guerreiras, e sim mães e irmãs de operários mortos na ditadura, que chegaram a ser presas. Então, temos que entender que uma ditadura abrange e atinge a todos da sociedade e não só as pessoas que eram contra ela. Estamos caminhando, embora haja esse conservadorismo, para impedir que essa ignorância tome conta.

​

Maria Eduarda: Existem muitos comentários a respeito da pandemia, que a China foi o único país a ter um crescimento no PIB apesar de o vírus ter se iniciado lá, e esse crescimento se deu por ela ser uma ditadura comunista, entre outros. Você acha que isso é válido?

Marta Rovai: Não é válido, primeiro que a China não é um regime de esquerda, como pensam. O que nós temos na China é um Estado totalmente autoritário. Se pensarmos no socialismo escrito por Marx, ele propunha um Estado proletário, em que os trabalhadores participassem e tivessem direitos. O que nós temos na China é uma ditadura de Estado que o partido comunista implantou. Outra coisa que já havia dito é que toda ditadura, seja de esquerda ou direita, é um problema. Então, essa justificativa de “teve ditadura, mas melhorou”, melhorou pra quem? Como está a população da China? Como são as condições de trabalho lá, os trabalhadores são explorados? Existem problemas seríssimos na China. Igual dizem que o nazismo reergueu a Alemanha. Reergueu pra quem? Estudos mostram que, na Alemanha, havia fome entre os alemães, fora o povo que pagou com as suas vidas. Assim, a saída para as ditaduras é sempre a democracia, e a saída da democracia é sempre a democracia. Se eu estou passando por uma crise, eu vou precisar de novas ideias, debates para conseguir enxergar saídas. Preciso da diversidade de opiniões. Em uma ditadura, isso é impedido: nós temos aquilo que o Estado decidiu e que aquele grupo decidiu. Nós consertamos erros tendo eleições e votando novamente. Tentando novamente com outra proposta, outra pessoa, outro partido e assim vai. A democracia nos salva porque nos dá a chance de corrigir. Mesmo se errarmos, ela dá a possibilidade de tentar de novo. Se eles dizem “vejam a China”, eu digo “vejam a Noruega, a Dinamarca, a Suécia, a Holanda, a Suíça” que são países capitalistas, amplamente democráticos e que tem saídas, o povo vive bem. É o Estado do Bem-Estar Social e que tem problemas, mas, se é pra comparar, eles são países democráticos e que a população vive muito melhor que na China. A diversidade de comparação é muito importante porque as pessoas pegam exemplo que as convém para justificar o seu ponto de vista. 

​

Maria Eduarda: Você acha que a importância do historiador, hoje, é nos tirar dessa não compreensão do passado?

Marta Rovai: Nós temos que pensar que o trabalho do historiador é isso que o CRA News está fazendo com vocês, esse trabalho de promover o diálogo, de estimular a busca da informação. Existe uma fala muito bonita do Paulo Freire, que foi educador, que diz assim: “Ninguém salva ninguém. A gente se salva junto”, porque a educação é isso. O historiador provoca e estimula as pessoas a pensarem sobre o seu passado. E aí, a gente se liberta junto porque, com o diálogo na democracia, nós vamos nos libertando. Eu percebo que o racismo existe e eu sou responsável por ele. O problema do negro é um problema nosso. O racismo é uma prática nossa. Nós precisamos nos autocriticar. O problema da ditadura é um problema nosso porque o ditador só é ditador se nós permitimos. Acho que essa é a importância do historiador, fazer essas provocações.

​

Maria Eduarda: Você acredita que a profissão de historiador seja valorizada nos dias atuais? 

Marta Rovai: Não, ela não é valorizada. A gente acabou de ter no Congresso a aprovação da nossa profissão. Nós demoramos anos e anos lutando por essa aprovação. A profissão de historiador nem existia, a gente que se nomeava assim. Nós só conseguimos dia 19 de agosto deste ano a aprovação do Congresso, depois de o presidente ter vetado, mas o Congresso derrubou esse veto, e hoje a profissão de historiador é ainda mais importante e é ainda mais desvalorizada. Nós estamos sob um ataque ferrenho, não sei se você sabe, mas várias "lives" de historiadores estão sendo invadidas. Há um canal de ensino de história que foi derrubado. Pessoas contrárias aos historiadores, porque é aquilo que você já percebeu, o enfrentamento do passado é um perigo porque aponta responsabilidades. Por isso, universidades estão sendo bombardeadas, aí não é apenas o historiador, e sim o intelectual, que é o inimigo eleito pelos conservadores. Não somos respeitados, mas isso não é “sem querer”, isso é proposital. Eles desqualificam o que nós dizemos, “Ah, isso aí é comunismo”. Todo o historiador passa por estudos, com documentos, comparando-os, lê pra caramba, vai a arquivos. O que nós dizemos não é a nossa opinião. As pessoas têm que aprender que história não é opinião, é pesquisa. A gente estuda muito pra dizer sobre o passado, nós não chutamos o que aconteceu, e as pessoas demoram para compreender isso porque não querem que compreendam nossa importância.

​

Maria Eduarda: O que você diria para uma pessoa que deseja seguir carreira de historiador?

Marta Rovai: Meus amigos normalmente diriam para essa pessoa correr. Eu digo para ficar e persistir. Não é fácil, primeiro que eu amo dar aula, sou professora e historiadora, mas dar aula é uma coisa muito difícil, hoje mais ainda porque o professor é outra profissão desvalorizada e desmerecida, porém também é proposital. Num país onde há práticas autoritárias, a educação democrática não é interessante. E isso é extremamente terrível, romper essa relação, que parece que vocês têm aí, que é uma relação de confiança e de afeto ao trabalho do professor. Essa relação é algo fundamental para valorizar a educação. Crer que o professor é um profissional que se preparou para dar aula, e não uma pessoa qualquer. E ser historiador é mais que necessário hoje. Então, não desista, acredito que temos que persistir, se queremos ver uma sociedade mais democrática e mais humanizada, nessa profissão. Ela é difícil, mas os frutos dela são maravilhosos. São alunos como vocês que são os resultados das nossas pesquisas. Enquanto uns ignoram, outros querem abraçar a causa e debater. Os frutos são sempre maravilhosos, sempre. Até hoje, eu recebo mensagem de alunos, no "Facebook", lá do colegial da década de 1990. Alunos que escrevem assim: “Obrigado, professora, por ter me ensinado sobre a ditadura porque até hoje eu não esqueci”, ontem mesmo, um aluno formado em Química pela Unicamp, mas que trabalha no Rio de Janeiro. Não tem preço uma pessoa que lembra e agradece, falando “olha, aquilo que eu aprendi lá trás e não me esqueci”. A gente tem que acreditar que as profissões de professor e de historiador são fundamentais. Não graças a elas, mas com elas, é possível mudar a história. Então, persista. Quem quiser, vai para a briga, porque é muito bom.

 

Para conhecer melhor nossa convidada, disponibilizamos o currículo Lattes dela: http://lattes.cnpq.br/2017104349633265.

​

Agradecimentos especiais: Somos gratos à professora Marta que, gentilmente, cedeu seu tempo para a realização da entrevista e ao professor de Redação Leandro Paiva que mediou a conversa.

Terceira Edição

E aí... Odonto?

Publicado em 14/07/2020, por Maria Eduarda Florêncio da Silva - Papo Cabeça - CRA News.

       Olá, queridos profissionais do futuro, nesta edição do CRA News, vamos falar sobre a Odontologia. É interessante destacar que a primeira faculdade que formava dentistas só foi criada em 1900, em São Paulo, contudo a profissão foi datada no Egito Antigo, onde foram descobertas três tumbas de dentistas a 25km do Cairo. Apesar de ter surgido bastante tempo depois no Brasil, ainda assim, a credibilidade de um profissional brasileiro odontológico é bem alta, sem contar que o Brasil é o país que mais forma dentistas, tendo 20% dos profissionais no mundo todo, de acordo com Conselho Federal de Odontologia (CFO).

       Porém, nesta edição, queremos dar um foco nas questões importantes que vêm acontecendo no nosso país e no mundo, assuntos que deveriam estar sendo discutidos há muito tempo. Nestes últimos meses, vimos ondas de manifestações antirracistas e antifascistas por conta de ocorridos trágicos envolvendo o racismo e o elitismo. Por isso, trouxemos um convidado para a entrevista, Felipe Costa (@felipegfcosta no Instagram), que nos falará sobre Odontologia e sobre o fato de viver na pele esse problema enraizado no mundo todo.

Maria Eduarda: Qual sua formação?

Felipe Costa: Sou Cirurgião Dentista formado pela Universidade Federal de Alfenas.

 

Maria Eduarda: O que te levou a querer ser dentista? 

Felipe Costa: Desde criança, já sabia que queria algo na área da saúde. Porém, confesso que, até entrar na faculdade, não tinha certeza da minha escolha. Graças a Deus, não errei.

​

Maria Eduarda: Quais as principais dificuldades que você encontrou no curso?

odonto.jpg

Felipe Costa: O curso de Odontologia exige um investimento muito alto financeiramente devido aos materiais, principalmente. Por vir de uma família pobre, essa foi minha maior dificuldade durante toda a graduação.

​

Maria Eduarda: Que dificuldades você encontrou por causa da sua cor de pele no curso?

Felipe Costa: NUNCA me senti representado durante toda minha graduação. Apesar do perfil do estudante ter mudado um pouco, por conta das políticas públicas que permitiram o ingresso de mais pessoas negras e pobres na faculdade, o curso de Odontologia ainda é muito elitizado. Só tive um professor negro e, por muitas vezes, não me sentia parte daquele lugar.

​

Maria Eduarda: Sua profissão é valorizada? Por quê?

Felipe Costa: Acredito que sim. Como eu disse na pergunta anterior, é uma profissão ainda muito elitizada e talvez por isso podemos dizer que é valorizada. Por outro lado, grande parte da população ainda não tem o acesso ao atendimento odontológico básico e necessário, além de acreditar também que essa mesma população ainda não tem total consciência da importância do tratamento da saúde bucal e do Cirurgião Dentista na sociedade como um todo.

​

Maria Eduarda: Você já se sentiu desmotivado a continuar seguindo sua profissão por conta de preconceito?

Felipe Costa: Nós, negros, somos desmotivados desde muito cedo a seguir nossos sonhos. Frases, como “Isso não é pra você”, “É melhor você tentar outra coisa”, “Você não vai dar conta”, são normais no nosso dia a dia. Sempre tivemos que provar duas, três, quatro vezes mais a nossa capacidade. E, na minha profissão, não é diferente. Ser questionado quase que diariamente se eu realmente sou dentista ou se eu já me formei, acaba que, em certo ponto, me faz repensar se eu deveria estar ali algumas vezes. Entretanto, é de onde tiro forças e, no final, a desmotivação acaba se tornando uma motivação maior ainda de seguir resistindo e representando os meus.

​

Maria Eduarda: O que te motiva a continuar nessa carreira?

Felipe Costa: Saber que sorrir, literalmente, é um direito de todos. A Odontologia não se limita só a boca, ela vai muito além disso. São vidas, sonhos. Acredito também que direta, ou indiretamente, acabo sendo exemplo ou motivação para outros negros que querem seguir nessa área e acabam ficando sem muitas referências. E encorajá-los, além de motivação, torna-se um dever para mim. Por fim, tratar e cuidar do sorriso de uma pessoa é uma grande responsabilidade que automaticamente se torna um privilégio maior ainda.

​

Maria Eduarda: Tendo em vista a globalização e a facilidade de falar sobre assuntos importantes, como o racismo, em meios de massa, por que  as pessoas continuam tendo o mesmo pensamento preconceituoso?

Felipe Costa: NINGUÉM nasce racista. Isso é fato! Creio que ainda somos muito pouco representados em lugares de liderança e de influência. E, infelizmente, quando se trata de encarceramento em massa, pobreza e analfabetismo, acabamos sendo a maioria. Essa ‘’conta’’ não fecha. São 400 anos de escravidão e retrocesso do povo negro. Tenho comigo que nossa geração tem em suas mãos a chance de começar a virar essa página e começar a escrever algo novo (mas sem nunca se esquecer do passado). O diálogo é necessário e importante, mas não é o bastante. É necessário muito conhecimento de História e, principalmente, Educação.

​

Maria Eduarda: No seu curso, o mercado de trabalho é abrangente? Qual é a principal dificuldade da profissão para você?

Felipe Costa: A Odontologia, hoje em dia, tem mais de 30 especialidades. Tem para todos os gostos! Desde as mais conhecidas, como cirurgia, prótese, implantes, tratamento de canal, até as mais atuais e recentes, como a Odontologia do Esporte e Harmonização Orofacial. O Brasil é o país que tem mais Dentistas no mundo. Portanto, a concorrência é algo que dificulta quem está começando do zero e entrando no mercado de trabalho. Bem como o recém-formado que não tem o suporte financeiro para investir em sua própria clinica desde o início e trabalha em outras clinicas, acaba também encontrando certo tipo de dificuldade, tanto para alavancar sua carreira quanto para fidelizar seus pacientes.

​
 

Maria Eduarda: O que você diria para uma pessoa que deseja seguir essa profissão?

Felipe Costa: É a melhor profissão do mundo. Estude, estude e estude. Não existem atalhos.  Esteja sempre preparado e atualizado. Faça cursos sempre que puder para aprimorar e melhorar seus conhecimentos. NÃO desista. Ninguém começa por “cima.’’ A Odontologia brasileira é uma das melhores do mundo, se não for a melhor. E, como eu disse anteriormente, não se trata exclusivamente de dentes. São vidas, sonhos e histórias que você cuidará por grande parte da sua vida.

Segunda Edição

E VAMOS DE “PROFESSOR”?

Publicado em 15/05/2020, por Maria Eduarda Florêncio da Silva - Papo Cabeça - CRA News.

       Olá, querido profissional do futuro,

       Como já sabe o nosso objetivo aqui, nesta segunda edição do CRA News, nós vamos de professor. Não é novidade para ninguém que ser um educador não está nos planos da maioria dos vestibulandos. De acordo com o Estadão, somente 2,4 dos jovens de 15 anos e acima disso desejam ter uma carreira voltada para a docência.

        Está óbvio também que o professor é uma das mais importantes figuras profissionais hoje na sociedade brasileira (não precisamos nem citar motivos, não é?), ainda que não tenha seu devido valor para as pessoas.

        Por isso e pelo contexto inédito em que estamos vivendo, com a Educação a Distância (EAD) e tudo mais, decidimos propor esse tema para o nosso "Papo Cabeça" da segunda edição do jornal e entrevistamos nosso querido professor Saulo Rocha Leite, que ministra aulas de Geografia. Confira a entrevista:

Maria Eduarda: Qual é a sua formação?

Saulo: Bom, eu tenho duas formações. Formei-me em administração de empresas e em geografia.

​

Maria Eduarda: O que te levou a querer ser professor?   

Saulo: Eu confesso que foi o acaso. Não imaginava, em momento algum, ser professor. Em um certo momento, eu fui convidado a dar uma aula e, como eu já gostava das matérias, deu certo.

​

Maria Eduarda: Quais as principais dificuldades que você encontra ao ser professor? 

Saulo: Uma das principais ainda é a valorização da profissão que, na nossa sociedade, o professor não é valorizado. A gente encontra infraestrutura precária em alguns colégios e, na maioria das escolas públicas, é também uma das maiores dificuldades.

saulo.jpg

Primeira edição

Maria Eduarda: Sua profissão é valorizada? Por quê? 

Saulo: Não, infelizmente, na nossa sociedade, como já dito anteriormente, ser professor ainda não é uma profissão valorizada, digo isso para o professor na educação básica e não na superior, e essa desvalorização leva o professor a lecionar em vários períodos. Eu acredito que não seja valorizada por conta de políticas públicas governamentais, já que a prioridade no atual governo não parece ser a educação.

​

Maria Eduarda: O que te motiva a continuar nessa carreira? 

Saulo: Eu gosto muito de ser professor. Eu faço o que eu gosto, e creio que isso é o mais importante. Quando a gente acorda para dar aula, vai trabalhar, não pensamos que dar aula é o nosso trabalho, eu particularmente não penso que é um trabalho. É o que me motiva, meu apreço pela profissão.

​

Maria Eduarda: Tendo em vista os desafios de hoje por conta da pandemia, você acha que as medidas tomadas (aulas por meio de plataformas digitais) são as melhores?

Saulo: Não. Não penso que são melhores, nem piores, elas são ferramentas. Eu acredito que todas as ferramentas que possam ser usadas em momentos de crise são válidas. Em momentos de crise e não crise, pois, se o aluno não consegue estar presente e existe algo para ajudá-lo no ensino e na aprendizagem, todas as estratégias são válidas. Não acredito em melhores, nem piores, elas apenas se complementam.

​

Maria Eduarda: Você conseguiu se adaptar facilmente a esses meios on-line? 

Saulo: Sim. Tive fácil adaptação, pois já eram mecanismos que eu usava. Fiz vários cursos, uma pós-graduação em metodologias ativas e acredito que é um caminho sem volta. As tecnologias da informação são ferramentas que estão aí para facilitar. Adaptei-me bem facilmente, porém, com a dinâmica da quarentena e do ambiente familiar, dificulta um pouco.

​

Maria Eduarda: Qual é a diferença entre as plataformas digitais e a aula presencial que você considera mais marcante? Essa diferença é positiva? 

Saulo: Na nossa profissão, a docência, é muito interessante a presença social. Creio que a socialização é muito importante e as aulas digitais não têm esse “calor humano”, a socialização, e, na minha opinião, é um ponto negativo. Como ponto positivo, eu acho que as aulas on-line nos deixam mais tranquilos, pois, a qualquer momento, podemos assistir a uma aula no conforto de casa, mais tranquilamente e longe de pessoas que poderiam nos distrair.

​

Maria Eduarda: O que você diria para uma pessoa que deseja seguir essa profissão? 

Saulo: Para professor, eu falaria a mesma coisa que falaria para qualquer outra profissão: faça o que você gosta. Se você fizer o que gosta, automaticamente será feliz e bem-sucedido. Em qualquer profissão, eu desejo que as pessoas escolham o que elas mais gostam, pois aí elas nunca sentirão que estão indo trabalhar.

​

Que tal Psicologia?

Publicado em 26/03/2020, por Maria Eduarda Florêncio da Silva - Papo Cabeça - CRA News.

       

         Olá, querido profissional do futuro,

       O objetivo desta seção é ajudar você que, assim como eu, não sabe muito bem o que escolher para fazer e se dedicar uma boa parte da vida. Nesta primeira edição, falaremos sobre a Psicologia que vem crescendo como área de interesse de uma boa parte dos vestibulandos. De acordo com o Conselho Federal de Psicologia, há um total de 366.687 psicólogos no país. Um número bem grande, não é mesmo?

        “Psicologia” vem de dois radicais gregos: "Psique” que significa "alma"/"espírito"/"mente" e "logos” que significa "estudo", ou seja, é o estudo da mente. Segundo informações do “Guia do Estudante”, “o psicólogo estuda os fenômenos psíquicos e de comportamento do ser humano por intermédio da análise de suas emoções, suas ideias e seus valores. Ele diagnostica, previne e trata doenças mentais, distúrbios emocionais e de personalidade. Ele observa e analisa as atitudes, os sentimentos e os mecanismos mentais do paciente e procura ajudá-lo a identificar as causas dos problemas e a rever comportamentos inadequados”. Uma área bem legal para quem curte a saúde, o comportamento e a mente humana.

       Para sabermos um pouco disso na prática, nós, do CRA News, entrevistamos dois profissionais da área, Mariza Mercedes Jordão, mãe de uma colega nossa, e nosso professor de História/Filosofia/Sociologia, Samuel Bueno. Veja como foi a nossa conversa com eles!

Maria Eduarda: Qual sua profissão?

Mariza: Sou psicóloga clínica e sigo a linha psicanalítica. Fui formada pela Unifenas, em 1994.

Samuel: Eu sou professor e psicólogo formado há cinco anos pela Unifenas e também sou formado pela UNIFEG (Guaxupé) em Filosofia. Sou especialista em gestão do capital humano, em metodologias ativas e estou terminando uma especialização em psicologia analítica.

a.jpg
SAmuel.jpg

Maria Eduarda: O que o levou a escolher essa profissão?

Mariza: Sempre gostei do abstrato e do individual. A parte cativante da história de cada pessoa e, ainda no colegial, lia livros de Freud.

Samuel: Eu prezo pelos valores humanistas e tentei encontrar uma profissão que me desse prazer e realização pessoal e que pudesse contemplar esses valores. Na minha graduação em Filosofia, eu tive contato com uma obra, da qual recomendo a leitura a todos, chamada "Em busca do sentido", nela é contada a história de um psicólogo em um campo de concentração. A partir dessa obra, eu me encantei com a Psicologia, comecei a fazer Psicoterapia na época e, assim que terminei o curso, eu comecei a graduação em psicologia.

​

Maria Eduarda: Quais os desafios que você enfrentou para chegar aqui?

Mariza: Pouco reconhecimento e importância dentro das instituições.

Samuel: Foram vários desafios, como a moradia. Eu residia em outra cidade, o curso tem uma carga muito pesada, é muita leitura e tem que ter muito estudo. Passei por desafios materiais até minha formatura e, somente depois dos cinco anos da graduação, é que você sai da faculdade e trabalha. Contudo, o mercado da Psicologia é mais complexo nesse sentido. Hoje, onde se tem uma maior demanda é na saúde pública, e no meu caso não foi diferente. Comecei com a saúde mental no sistema de saúde público em Alfenas. É uma experiência a qual recomendo a todos os psicólogos porque conseguimos entender como a Psicologia consegue fazer mais pela sociedade. Depois disso, tive desafios na minha inserção no mercado de trabalho, há uma concorrência muito forte. Estuda-se muito pra esse ramo porque você faz sua própria análise e só se consegue levar pessoas até onde você mesmo já foi. Tem que fazer terapia e tem que ter supervisão clínica, que é uma orientação de como se conduzem casos clínicos com os quais você trabalha. Ou seja, um bom psicólogo está sentado em um tripé: estudo, trabalho pessoal (própria psicoterapia) e supervisão.

​

Maria Eduarda: Você gosta da sua profissão?

Mariza: Sim, adoro. Eu amo trabalhar e atender clientes.

Samuel: Eu amo ser psicólogo e amo ser professor. Se tivesse a oportunidade de fazer tudo de novo, faria as mesmas escolhas. Sou realizado naquilo que faço.

​

Maria Eduarda: Quais as dificuldades que você encontra nessa profissão?

Mariza: Psicologia é uma profissão que você tem que conquistar seu lugar, como profissional adequado e confiável, tratamos de algo muito importante e que deve ser levado a sério. Não é como a medicina, por exemplo, que recém-formado já possui um grande "status" e várias oportunidades, pode-se dizer.

Samuel: A questão da psicofobia. No imaginário da sociedade brasileira, o psicólogo e o psiquiatra só são procurados em última circunstância. É falado naturalmente que se possui uma patologia fisiológica (ex. diabetes, pressão alta), mas, quando se fala em "estou fazendo terapia" ou "estou indo em um psiquiatra", percebe-se muita rejeição por parte da massa. Então, uma das maiores dificuldades, a meu ver, é a aceitação de que a Psicologia é uma área da saúde como qualquer outra.

​

Maria Eduarda: Sua profissão é valorizada? Por quê?

Mariza: Não. As pessoas ainda acham que nós tratamos "loucos", quando, na verdade, a terapia é para ajudar o indivíduo a manter um bem-estar mental saudável e equilibrado ou, então, a ajudar viver melhor com seu "desiquilíbrio".

Samuel: Apesar de todas as dificuldades que elenquei na questão anterior, acredito que seja valorizada e tem se tornado cada vez mais, inclusive. Não acredito que a depressão seja a doença do futuro, penso que a ansiedade faça as pessoas procurarem mais a ajuda na saúde mental. É valorizada sim, e eu luto todos os dias para a valorização dela.

​

Maria Eduarda: O que o motiva a continuar nessa profissão?

Mariza: Amor pela profissão.

Samuel: É perceber que eu posso proporcionar uma melhora na qualidade de vida do próximo. É isso que me faz levantar da cama todos os dias e ir para o consultório, e tento encarar meu consultório como um espaço em que eu ajudo as pessoas a se tornarem uma versão melhor de quem elas são.

​

Maria Eduarda: Você sempre quis ter essa profissão?

Mariza: Sim.

Samuel: Como já dito na primeira resposta, não, não pensava nisso até fazer a primeira graduação, na qual conheci e me encantei pela Psicologia.

​

Maria Eduarda: O que o faria desistir dela?

Mariza: Creio que nada.

Samuel: Uma demência para não conseguir entender o que as pessoas falam ou um problema de audição para não escutar mais o outro. Só isso. Acredito que eu vou estar velhinho oferecendo minha escuta e minha capacidade de síntese para ajudar o próximo.

​

Maria Eduarda: O que você falaria para as pessoas que pensam em seguir essa mesma profissão?

Mariza: É uma profissão gratificante, mas exige muito esforço e dedicação. Tem que ler e pesquisar muito, sempre se manter atualizada, dentre outros fatores. A atuação é muito complicada, tem que haver muita paixão para manter-se nela.

Samuel: É uma profissão que requer muito estudo e muita dedicação pessoal, pois, se você não está bem, automaticamente, seu trabalho não é bem feito. É uma profissão que tem muitas possibilidades de trabalho. A psicologia clínica se divide em várias abordagens, como a hospitalar, a forense, a do trabalho, a psicologia social, a neuropsicologia, ou seja, muitas opções e muitas possibilidades, e é o que dá mais oportunidades para se inserir no mercado de trabalho. Se você pensa que a sua realização pessoal passa por ajudar outras pessoas, essa é uma área na qual você daria certo. Eu sou suspeito para falar de Psicologia. Não acredito que todas as pessoas deveriam fazer terapia, penso que todas as pessoas mereciam fazer psicoterapia. É muito bacana saber que você pode se tornar uma pessoa melhor pelo trabalho psicoterápico. Quem deseja cursar pode ter certeza que é uma ótima área, tem muitos campos disponíveis para atuação, desde que você procure dar o seu melhor naquilo que faz. E isso vale para todas as profissões, não só com a Psicologia.

​

bottom of page