Cantinho das artes
Artistas do Colégio e de outros espaços
Publicado em 09/11/2020, por João Pedro Chagas - Cantinho das Artes - CRA News.
Temos muitos artistas no Colégio e fora dele. Nesta edição, exibiremos mais um pouquinho do trabalho deles. Delicie-se!
Sinceridade
Pois bem, tenho muito a dizer,
Porém é incerto se alguém vai ler,
Mesmo que eu falhe, estou tentando.
Quero fazer o poema mais sincero do ano.
Ao Zant, darei toda a credibilidade,
Mas quero retratar não só minha realidade.
Admiro e admito total inspiração
Por sua mais bela e incrível canção.
Mas agora, e você? Sabe mesmo em quem pode confiar?
Sua confiança vai em quem o salvaria ou o ajudaria a afundar?
Já dizia Nasac, a sociedade é fria e nunca irá lhe ajudar.
Quanto mais profunda a relação, mais fácil o derrubará.
Amigo verdadeiro lhe ajuda na tristeza.
Acreditam nessa mentira, pensando na beleza,
Porém, quando, aos prantos, a cabeça você deita
É o propício o momento em que a falsa amizade aproveita.
A falsidade se baseia em um único e claro traço,
Lhe oferece a mão com a intenção de arrancar seu braço.
Prova disso é só abrir a merda dos seus olhos ingênuos.
Basta pesquisar na internet e ver toda a merda que está acontecendo.
Todo mundo enxerga apenas o que o governo oferece.
Enquanto uns morrem de fome, mas isso não importa, esquece.
Vamos acreditar na doce mentira, que é algo melhor.
Daremos as mãos e que se foda quem está na pior.
A vida é um mar de rosas, lindas, cores de vinho.
Porém, até a mais bela das rosas possui espinho.
Entende? A tempestade que vem, para todos, é igual,
Porém cada barco é diferente, e ainda acham isso normal.
A maioria tende a envergonhar a nação.
No fundo, são cegos, apenas por opção.
Enquanto alguns no mundo passam fome,
Outros cospem no prato que comem.
O ano é 2020, um vírus devasta seja homem ou mulher,
Enquanto nosso representante diz que é uma gripezinha qualquer.
O ano dos pesadelos, no qual todos os dias se iniciam e não acabam.
Mas vamos fingir demência e dizer: “E daí? Não posso fazer nada”.
No Brasil, funciona assim, as merdas de estuprador são esquecidas,
Quase obrigam uma criança a dar à luz e dizem ser em prol da vida.
Seu salvador morreu na cruz, livrando a todos de serem culpados.
Nos dias atuais, se ele realmente voltasse, novamente seria crucificado.
A população apontou o dedo para a menina,
Chamando-a de culpada e acusando-a de assassina.
Pro tio estuprador, uma coisa eu não entendia:
“Errou, mas é uma vida”, olha só a hipocrisia.
A hipocrisia é algo complexo e presente na nossa sociedade.
Apontam o dedo, mas sequer olham suas próprias atrocidades.
Julgam os erros das pessoas, tratando-as com total desgosto.
O princípio de toda religião não é “Amai-vos uns aos outros”?
Desde pequenos, temos que aprender a dividir o nosso pão,
Na África, tem a fome, vemos isso no jornal com um prato na mão.
Na internet, pagam de santos, ganhando atenção por terem ajudado.
Mas atravessam a rua para evitarem dar esmola a algum necessitado.
Você bota seus amigos nas costas, até que fique corcunda.
Quando seu barco furar, pulam fora antes que ele afunde.
Todo mundo fica pasmo ao ver tudo que você conquistou,
Mas agora pro seu caminho, eu pergunto, alguém olhou?
Você daria a vida para que seu parceiro possa viver,
Você acha que ele, ao menos, cortaria o dedo por você?
Muitos vão me julgar, falando que eu só disse asneira,
Todos deveriam saber, a solidão é nossa maior companheira.
E a todos que estão lendo isto, desejo boa sorte.
Viver neste país está sendo quase como a morte.
E, se tudo que está acontecendo acabar me matando,
Quero morrer tendo feito a poesia mais sincera do ano.
Sem título
Eu sempre penso se tudo é real.
Será que não devemos ser mais leais?
Ser de verdade
Neste mundo de intelectualidade.
Eu choro ao escrever e ao reler
E saber que tudo que é ruim ainda existe.
Por que dar um sorriso não parece tão simples?
Há um vazio no coração
Que jamais será preenchido.
A dor será amenizada
Apenas por comprimidos.
Dói saber que não somos um mundo de valor,
Mas que sabemos expressar sempre nossa dor.
Enquanto houver palavras, estamos armados
E amados, contra todo dissabor.
Ana Luiza Castro de Souza, aluna do 9º ano II do Ensino Fundamental II.
Sem título
de onde já não mais havia esperança
negaram o direito à terra
como se não bastasse,
demoliram uma escola,
uma escola!
famílias agredidas desde sempre
mulheres e homens, crianças na barra da saia,
idosos que não tiveram como correr
não podia ter socorro, nem comida
nem nada.
todos sabiam, nada fizeram
todos sabiam, ninguém se importou
hoje tem lágrima fertilizando a terra
aquela que estava sendo cultivada
com amor e restauração
os tratores deixaram tudo cinza
em cinzas
chamas espalhadas pelo vento
um fuzil apontava pra frente
onde deveria haver paz
onde deveria haver livro
onde deveria haver sorriso
a cavalaria avança
as vozes guerreiras resistem
enquanto o fogo consome os anseios
todo cansaço é indignação
do abandono, do desmantelo, do descaso
o direito sempre foi negado
somente aos pobres
nada está na TV, porque a TV é deles
os nossos, sempre os nossos, de joelhos dobrados
fizeram preces de mãos erguidas
todo suspiro de vinte anos de luta
quanta dor, meu Deus, quanta dor!
até onde o homem é capaz de ir?
Leandro Paiva, professor de Redação do Colégio CRA.
Sem título
João Victor Venga de Ávila, aluno do 2º ano do Ensino Médio.
Lucas Vitor, aluno do 2º ano II do Ensino Médio.
Terceira Edição
Artistas do Colégio e de outros espaços
Publicado em 14/07/2020, por João Pedro Chagas Ribeiro e João Victor Venga de Ávila - Cantinho das Artes - CRA News.
Temos muitos artistas no Colégio e fora dele. Nesta edição, exibiremos mais um pouquinho do trabalho deles. Delicie-se!
Mandamento onze
Não era errado até eles nos dizerem.
Não era perigoso até nos matarem.
Com suas palavras e pedras, matavam
Os que nas fogueiras queimavam.
Do pecado à doença nos jogaram.
Terapias de torturas não mudaram
O que, na essência da alma, nasce
E, a cada dia, nosso amor floresce.
Mas violência e ódio não apagarão
Aqueles que burlavam a inquisição,
Porém nossa luta nunca se acabará.
Se amamos, se sangramos o que há?
Onde é errado amar nosso igual?
Somos mais que reprodutores, afinal.
O pular do muro
Tão longe estava a salvação. Era o que pensou ele ao ver-se criança, sentado aos pés daquela árvore tão velha quanto aquela terra e alta como seus céus azuis. Segurava um livro proibido, em que apenas uma de suas centenas de páginas continha aquelas dezenas de milhares de estações passadas. Queria apenas entender o que significava tudo aquilo: a frase do livro era desconexa, solta, mas completa e livre como nenhum humano.
Ele, não contente com sua falta de compreensão sobre aquele livro e por sua frase, pensou: Qual seria o sentido? "Amai ao próximo". Não fazia o menor sentido para ele que uma simples página mandasse com que ele amasse, pois ele acreditava ser essa a semente primordial da humanidade: amor que faz crescer vidas, faz florescer.
Ele havia achado aquele livro no pé da árvore, caído, encoberto pelas flores que caíam da árvore primaveril como uma chuva de doçura. Procurou, então, quem pudesse decifrar os enigmas das páginas vazias daquele livro, procurou um adulto. Qualquer adulto que pudesse ver o invisível daquele livro para contar a uma criança curiosa.
Não muito distante de lá, havia um lugar onde ele avistara antes pessoas com livros semelhantes, quando estava nesse peculiar mundo de livros gigantes com sua família. Era um lugar exótico aos olhos da inocência pura, tudo parecia vibrar com as ondas sonoras das vozes que se cruzavam à espera e inquietas. Quando aquele homem começou a falar, a pequena criança voltou sua atenção para ele, assim como todos faziam. Por uma hora, ele aprendeu sobre o livro, sobre como era importante preservar as palavras dele vivas, pois elas eram a salvação. Tudo que aprendeu sobre aquele livro naquele milésimo de sua vida não o impactou muito, ele só se importava em entender o mundo a sua volta, o céu, as estrelas, o sol e a lua.
Aquele dia foi esquecido, assim como o livro, que ele achou sob aquela árvore enorme. Mas pouco depois de aprender a ler, ele conheceu aquele livro, pôde ler, mas, dessa vez, não tinha uma frase apenas. Fazia-se em forma de texto aquela narrativa pitoresca de um passado de certo e de errado, que arranhou até o fundo de seu pensamento, e construiu um muro entre o certo e o errado, tão alto quanto uma montanha, era o muro a linha moral, um ponto de não retorno entre o bem e o lado do mal. Ensinaram-no que só pulava o muro para o lado mal quem queria se perder, que tudo o que estava ali era verdade inquestionável e que, caso alguém desobedecesse, seria punido. Aquele livro fazia o mal, mas era surpreendentemente arrebatador.
Tudo ali é a verdade? Por que tem um povo escolhido? Por que outro serve este? Por que apenas homem e mulher? Para que serve a punição no inferno? Nada daquilo parecia normal. No começo, era apenas o "amai ao próximo", mas logo aquela gente estava controlando cada minúsculo ato, cada distante pensamento contrário era censurado antes de tomar a forma de argumento. Se era para amar ao próximo, por que eles haviam matado tantas pessoas no passado?
Até então, era apenas a palavra, o mal em forma exclusiva de orações, de insultos, de sussurros e de fofocas, pelo menos até o dia em que ele, da janela de sua casa, viu aquela multidão em seus carros, em carreata pela avenida, pregando descaradamente a morte. Já não havia no livro a frase “Amai o próximo”, e sim milhares de outras frases contrárias. Era, para ele, o fim, ele sempre soube que não encaixava naquela estrutura, nele abundava a melanina herdada dos antepassados, mesmo que ele tenha demorado para perceber isso. Além disso, diferentemente de outros meninos jovens, ele não se apaixonou por uma garota, e, digo mais, ele não queria usar as mesmas roupas que os outros. Ele havia, mesmo que mentalmente, pulado o muro para o mundo. E muito melhor era esse outro lado livre.
João Pedro Chagas Ribeiro, aluno do 2ºano II do Ensino Médio.
Sem título
Todo dia morre alguém da minoria,
Às vezes, ela nem sabia qual sexualidade ela teria,
Mas a sua vida inocente
Tirada foi, infelizmente.
Onde já se viu morrer por amar?
Onde já se viu morrer pela cor da pele?
Onde já se viu uma vida inocente assim se acabar?
Todo dia a vida de um de nós se vai,
Mesmo que sejam causas diferentes,
Estamos conectados pelo preconceito, infelizmente.
Não adianta na internet postar “Black Lives Matter”
Ou um texto em apoio ao “Pride Month”
Se sua atitude na sociedade diferente não é.
Utilize seu privilégio hétero e branco para mudar isso tudo,
Pois nós ainda temos fé.
Alexandre Augusto Cardoso, aluno do 2º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dr. Lauro Corrêa do Amaral.
Sem título
João Victor Venga de Ávila, aluno do 2º ano I do Ensino Médio
Segunda Edição
Artistas do Colégio CRA
Publicado em 15/05/2020, por João Pedro Chagas Ribeiro e João Victor Venga de Ávila - Cantinho das Artes - CRA News.
Temos muitos artistas no Colégio. Nesta edição, exibiremos mais um pouquinho do trabalho deles. Delicie-se!
Nascemos nus
efemeridade de terra e água
acusam-nos barro
extirpam-nos homem
entende-nos pecados
e nós, despidos do que nos negam
permanecemos nus
Segurei o amor com uma peneira
acostumei-me com a poeira
impregnada nos quases que acumulei
e, quando batem à porta,
quando a fresta de luz toca o rosto,
prendo o som do oco do peito
enquanto o amor escorre
Leandro Paiva, professor de Redação no Colégio CRA.
Nosso xote - Gika.Vírus
E foi assim
Que eu me perdi em ti
Tu tens um jeito
Tão meigo de lidar
Eu fiz esse som
Pra tu poder dançar
E foi assim
Que o amor se espalhou pelo ar
Só eu e tu
Vendo o pôr-do-sol raiar
Só eu e tu
Vendo o pôr-do-sol raiar
Quero ficar
Até o mundo acabar
Não tenho pressa
Tudo isso é o que me interessa
Então vem do meu lado
Não vamos perder tempo
Nosso tempo é curto
Vamos deixá-lo mais lento
Tu sabe ser
O meu carnaval
No meio do ano
Sempre tão especial
Giovanna Sant'ana Silva, aluna do 3º ano II do Ensino Médio.
Sem título
Laura Helena Jordão de Figueiredo, aluna do 2º ano I do Ensino Médio.
Sem título
João Pedro Freire, aluno do 2º ano II do Ensino Médio.
Primeira edição
Artistas do Colégio CRA
Publicado em 26/03/2020, por João Pedro Chagas Ribeiro e João Victor Venga de Ávila - Cantinho das Artes - CRA News.
Temos muitos artistas no Colégio. Nesta edição, exibiremos um pouquinho do trabalho de Marcos Paulo Bazana, aluno do 3º ano do Ensino Médio. Delicie-se!
ANDARILHO
Não muito longe, o fato ocorreu, mas não concordava com o tempo, que sempre passava rápido:
- Ei, você aí! - Sempre gritava o fato, como criança iludida, na tentativa de comunicação com pais ausentes.
O tempo atravessou a rua sem olhar para os lados, correndo em direção única, certo de seus objetivos. O fato, por sua vez, ficou perdido em seu próprio eco novamente.
Perto dali, o fato avistou novamente o tempo que quase parou, continuou caminhando lentamente lado a lado com o fato:
- De que adianta tanta pressa se não pode parar para ver seus arredores? - Perguntou o fato conciso.
- Me desculpe, mas estou atrás do meu minuto.
O tempo volta ao seu ritmo e o fato se perde no passado.
SOLAZ
O que eu fiz pra merecer
eu mereço.
Eu mereço
lábios de morte branda.
Eu os mereço.
Eu os mereço.
Pensamentos sobre tudo
foram deixados.
Foram deixados
cair no vácuo, evacuar.
Mente aberta
a nadar.
Homens ao Mar
a afogar.
a afogar.
CONFINADOS
Cortaram belas plumas, sua asa.
Era branco angelical, oxidado.
Ferrugem que assume, o abandono.
Brilhante aço admira, acordada.
Propínquo ódio ao inimigo, devastado.
Tamanha guerra coração, resguardado.
Propenso assédio, distanciado.
Essas cortinas cobrem os rastros.
Constelação (2020)
Capacidade (2020)