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Fala aí, galera!

As primeiras opressões em nossas vidas

As primeiras opressões em nossas vidas

Publicado em 09/11/2020, por João Pedro Chagas - Fala aí, galera! - CRA News

      Desde cedo, temos contato com as instituições sociais, sendo elas o Estado, a igreja e a família. Quando pequenos, não somos capazes de compreender sobre como essas instituições nos oprimem e como elas exercem o papel de formar nossas personalidades. A família, a igreja e a escola são normalmente os primeiros espaços sociais em que somos inseridos, logo na primeira infância. Nelas, somos ensinados as regras da sociedade, tanto os princípios básicos da vida quanto conhecimentos culturais e tradições. Entretanto, há um lado das instituições que causa o mal que nos oprime, coage-nos e nos controla, às vezes, sem que possamos perceber.

      Como unidade fundamental de uma sociedade complexa, as famílias têm fundamental importância para a criação de uma sociedade como a nossa. Não considero que a famigerada “família tradicional brasileira” seja apenas uma alegoria para as famílias extremamente abusivas que seguem ligadas a estruturas coloniais e influenciadas por um senso de moral distorcido, e sim um fenômeno sociológico. Dentro dela, ocorrem diversas formas de opressão com base na hierarquia que coloca o homem como o centro indiscutível, o “pai de família”, considerado o provedor, responsável também por oprimir a todos. Penso que a figura feminina dentro da família é a mais oprimida, pois essa costuma lidar com uma extrema violência velada que nasce do machismo e da misoginia intrínsecos da verticalização social patriarcal. O ambiente familiar também costuma ser opressor para os filhos que veem suas liberdades drenadas pelos pais e são impedidos de se expressarem. Muitos são os casos de pais que ditam a nós, filhos, tudo que devemos fazer, desde as roupas que devemos vestir, nossos gostos e, até mesmo, a profissão que devemos seguir, matando nosso livre-arbítrio.

   Algumas famílias podem se tornar ainda mais opressoras ao apresentarem um maior fundamentalismo religioso ou tendências conservadoras, já que certos dogmas religiosos podem intervir na liberdade dos membros, principalmente dos filhos. 

      À medida que crescemos e entramos na escola, deparamo-nos com uma forma diferente de opressão. É na escola que, desde muito novos, somos ensinados e moldados para o mercado de trabalho por um sistema antiquado de ensino do início do século XIX. Esse sistema de ensino, conhecido como prussiano, tem suas raízes no contexto de industrialização e de unificação alemã, quando o Estado precisava qualificar a mão de obra e também manipular a população a seu favor. Compreendo que nem toda a culpa do mal desempenho nas instituições de ensino seja dos estudantes, pois como esperar que nosso desempenho como alunos seja bom dentro de instituições em que não temos o direito de opinar quando se trata das escolhas mais importantes? Os elevados números de estudantes que saem do ensino médio sem saber português e matemática básicos são indicadores de um ensino ultrapassado que nos atrasa como sociedade. 

      Precisamos combater essas formas sutis de violência que criam ambientes opressivos, como a família e a escola. Não podemos mais permitir que pais autoritários continuem a controlar totalmente os gostos e as vidas dos filhos, assim como é nosso dever impedir que o sistema educacional opressor continue a guiar milhões de alunos para a servidão a um mercado de trabalho explorador, sem considerar as diferenças de seus alunos. Ao meu ver, é dever dessas instituições zelar pela liberdade e criar um ambiente não opressivo para que as novas gerações cresçam e sejam pessoas melhores que as anteriores as quais cresceram sob esse fantasma da opressão institucional.

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João Pedro Chagas, aluno do 2º ano II do Ensino Médio.

Entre labirintos e asas.
Manipulação midiática

Entre labirintos e asas

Publicado em 09/11/2020, por Samuel Bueno - Fala aí, galera! - CRA News

      Banhada pelas águas do Mediterrâneo, a ilha grega de Creta é o cenário escolhido pela mitologia para dar vida ao Minotauro, ser metade homem, metade touro, alvo de fúria e de preocupação do rei Minos, governante da ilha. Dédalo, engenhoso arquiteto e grande amigo do rei Minos, foi o responsável pela construção de uma estrutura que trancasse a criatura que tantas ameaças causava aos cretenses. Dédalo edifica um complexo labirinto com inúmeros corredores, cuja intenção era encarcerar o Minotauro. A fortificação era segura e eficaz, garantiu o arquiteto. 

      Teseu, encarnando a jornada do herói, vai a Creta com a incumbência de matar o Minotauro. E obtém êxito com a ajuda de Ariadne, filha de Minos, que, com seu “fio”, possibilita a entrada e a saída de Teseu do labirinto. Descontente, o rei Minos opta por castigar Dédalo. A punição, estendida ao seu filho Ícaro, é o cárcere no labirinto. 

       Dédalo conhecia o labirinto e sabia que uma possibilidade de fuga seria voando. Por isso, junto ao seu filho, construiu asas que possibilitassem o escape. Após o molde das asas, a fuga seria o próximo passo. Pai e filho construíram a sua liberdade.

      Mas, a temática deste texto é sobre opressão. Dédalo amplifica a ideia de que os contrários são íntimos. Ao construir o labirinto, sintetiza a ideia da opressão. Seus corredores aprisionam o ser. Suas paredes tortuosas são os grilhões da existência. Por outro lado, a engenhosidade de Dédalos, ao juntar penas e cera no moldar das asas, proporciona o desencarceramento.

      Dédalo é a representação da humanidade. Carrega em si a gênese da opressão e a possibilidade da liberdade. Havia possibilidades de fuga do labirinto. Há possibilidades de fuga da opressão. Dédalos amplifica nosso poder de criar prisões ao mesmo tempo em que anuncia que a libertação também brota do ser. Olhe ao redor: podemos construir labirintos ou asas. Labirintos e Asas. Entre a opressão e a liberdade, está a tomada de consciência.

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Samuel Bueno, professor de História/Filosofia/Sociologia.

Manipulação midiática

Publicado em 09/11/2020, por Vitória Martins Máximo - Fala aí, galera! - CRA News.

       Segundo Guy Debord, a sociedade atualmente, em conjunto com os meios de comunicação, vive na forma de espetáculo, transformando a vida em uma sessão de imagens para aceitação coletiva. Dessa forma, evidencia-se a mídia como opressora de ideias e de conteúdo, expondo, assim, um padrão de atitudes e alavancando cada vez mais o agrupamento do consumo.

       Mormente, o modelo colocado a partir do físico escultural em estereótipos fixos em propagandas, em comerciais e em clipes musicais, enaltecendo a mulher como um “objeto”, traz à mídia valores negativos em grandes escalas. Nesse ínterim, pode-se citar o sociólogo Pierre Bourdieu que apresenta a explicação sobre uma teoria, a Violência Simbólica, muitas vezes, expressa nos veículos de comunicação com uma simples curtida, comentário ou exposição de dados, contrariando o poder e a beleza da mulher. Com isso, os índices de feminicídio e de agressividade contra a mulher se ascendem cada vez mais. 

      Além disso, o conjunto imposto para ganhos derivados na mídia é vinculado aos interesses capitalistas. Nesse modo, o valor empregado da divulgação de matérias, principalmente “Fake News”, gera uma renda relevante para os veículos de comunicação, possibilitando à publicação um maior engajamento e, por consequência, mais lucro. Dessa forma, os meios de comunicação interferem no consumo, fortalecendo o mercado das propagandas e dos comerciais com slogans e logotipos, proporcionando o aumento de gastos.

      Em síntese, observa-se a grande opressão dos veículos comunicativos atualmente. Dessarte, há a exposição de paradigmas envolvendo o “corpo perfeito” ou a exaltação da mulher como um “instrumento”. Ademais, o vínculo com o capitalismo e o consumo facilita a arrecadação de recursos pelo oferecimento dessas táticas para o mercado atual.

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Vitória Martins Máximo, aluna do 3º ano I do Ensino Médio

Terceira Edição

E a luta não pode parar

Publicado em 14/07/2020, por Ana Elisa Vasconcelos Gavião - Fala aí, galera! - CRA News

         O livro “O Cortiço”, obra considerada a maior expressão do Naturalismo no Brasil, escrito pelo literato Aluísio de Azevedo, tem como principal foco narrativo fazer uma denúncia da realidade do século XIX, entretanto é indispensável a análise da problematização em seu enredo quanto à visão patologizada acerca da homossexualidade. Nesse sentido, mesmo que tenha sido determinado pelo Artigo 3° da Constituição Federal de 1988 - que é de fundamental objetivo da República Federativa do Brasil promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, de raça ou de sexo –, é fato que essa lei não passa de uma idealização utópica da sociedade, tendo em vista que, desde o século XIX, pensamentos retrógrados e intolerantes ao que é “diferente” ainda persistem no hodierno.

        A questão das minorias no Brasil, não só em relação à orientação sexual, mas também quanto aos negros, às mulheres, aos imigrantes ou aos moradores de comunidades, está cada vez mais vulnerável diante de uma sociedade composta por grupos sociais que desfrutam de privilégios e empregam um valor vigente. Embora haja a existência de grandes correntes e de lutas sociais que influenciam aquele que se sente inferiorizado diante de uma parcela dominante a se rebelar e fazer com que sua voz seja ouvida, ainda é uma difícil realidade no Brasil, tendo em vista um país em que toda a sociedade sofreu uma alienação de mais de 500 anos de um patriarcalismo latifundiário branco.

          Ao particularizar essa inferiorização acerca dos homossexuais, depois de terem passado anos de lutas contínuas visando a uma emancipação, esse grupo conquista cada dia mais seus locais de fala, suas visibilidades e seus direitos de expressar aquilo que sente. Entretanto, a máxima de Albert Einstein “é mais fácil quebrar um átomo que o preconceito” se enquadra perfeitamente no que tange à homofobia, pois, mesmo que exista toda uma ideologia contra a aversão aos homossexuais, algumas pessoas insistem em ser cada vez mais intolerantes e fazem questão demonstrar uma repulsão em pequenos atos do dia a dia.
      Segundo pesquisas, diferentemente do que acontecia no passado, em que o preconceito era escancarado, muitas vezes por falta de leis específicas, nos dias de hoje, a antipatia acerca dos homossexuais tomou uma proporção mais eufemista, ou seja, passou ser a mais encoberta e, consequentemente, mais aceita pela sociedade. Dentre as centenas de exemplificações, tal fenômeno pode ser observado nas mais diversas extensões dos problemas sociais, que variam entre o fato de que 90% dos transexuais são excluídos do mercado de trabalho e recorrem à prostituição, até mesmo da normalização de nomes pejorativos para denominar alguém que se enquadra na comunidade LGBTQ+ com uma única intenção de exalar o ódio.

         Assim, cabe a nós admitirmos que vivemos em uma sociedade altamente intolerante e discriminatória, tendo em vista que a homofobia é a mais clarividente prova de ignorância, e, contra o preconceito, nada melhor que debates durante as aulas e em lugares públicos. Quanto maior e mais extensiva for a propagação dos diálogos referentes ao fim de um repúdio, mais a sociedade estará propícia a viver em uma verdadeira comunidade.

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Ana Elisa Vasconcelos Gavião, aluna do 3º ano I do Ensino Médio

Ser antirracista todos os dias

Publicado em 14/07/2020, por Luiza Fernandes Elias - Fala aí, galera! - CRA News

     As redes sociais têm sido bombardeadas nas últimas semanas do mês de junho com "hastags" e imagens que clamam, que suplicam pela atenção da massa para a luta antirracista. Embora pareça que esse movimento é algo recente e que chegou ao Brasil apenas após um acontecimento emblemático ocorrido nos Estados Unidos, no mês passado, essa luta é mais antiga, afinal ela permeia a história do nosso país e da nossa construção social ao longo dos séculos.  Diante dos fatos, não há como permanecer na inércia, na indiferença e, muito menos, isentar-se dessa discussão. É fundamental refletir, estudar e entender o que podemos e devemos fazer para mudar essa realidade.

       Em 25 de maio, um homem negro chamado George Floyd foi assassinado no estado de Minnesota, nos Estados Unidos, vítima de uma violenta e brutal investida de um policial branco. Após esse acontecimento, o movimento negro estadunidense se mobilizou e realizou várias manifestações fervorosas ao redor de todo o país, demandando justiça para Floyd e subindo suas vozes, almejando alcançar mais e mais pessoas que as escutem. Esse grito de socorro chegou ao nosso país e, junto dele, milhares de vozes brasileiras se somaram ao manifesto que chegou a subir a "hashtag" #blacklivesmatters em uma terça-feira muito movimentada nas redes sociais. 

      Na semana do dia 6 de junho, foi possível ver, por toda a internet, imagens de uma tela preta postadas em vários perfis de redes sociais. Muito se discutiu também sobre a luta antirracista e o que significa esse termo de fato. A famosa frase da célebre Angela Davis também estava por todos os cantos: “Não basta ser contra o racismo, é preciso ser antirracista”. Parece-me bastante positivo que, nessa semana, o debate e a conscientização estivessem a todo o vapor, aquecidos pela onda de protestos ao redor do mundo e também pelos acontecimentos recentes. Porém, a pergunta que fica é: Como ser antirracista todos os dias? Como manter a chama da luta antirracista acesa? A quem cabe essa ação? 

       Outro dia me peguei analisando minha estante de livros, em busca de obras cujos autores fossem negros para poder indicar e também reler, aproveitando para estudar. Qual foi a surpresa quando encontrei apenas duas obras que se encaixam nessa especificação? Quantos filmes e séries você já viu em que a maioria dos atores eram negros? Quantos "influencers" negros você segue em suas redes? Quantos amigos e amigas próximos negros você tem? Pare e reflita sobre essas perguntas. Se suas respostas forem as mesmas que as minhas, é necessário agir. E rápido. Estudar pode ser o melhor e mais importante ponto de partida para sair da ignorância e entender a complexidade desse tema. Busque conhecimento, ouça as vozes pretas e aprenda com elas. Procure estar todos os dias imerso nesse tema para que isso se torne algo cotidiano, rotineiro. E último, porém não menos importante, COMPARTILHE seus saberes, seus conhecimentos e suas experiências. Apenas a informação e o conhecimento podem derrotar o preconceito e a ignorância. 

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Luiza Fernandes Elias, graduada em Letras pela Unifal e professora de espanhol do ensino fundamental.

Racismo estrutural

A cada 23 minutos, morre um jovem negro no Brasil e, ao final deste artigo, mais um jovem negro terá sido assassinado

Publicado em 14/07/2020, por Ruam Vitor Barbosa Moreira - Fala aí, galera! - CRA News

       O racismo estrutural está presente nas nossas escolas, nas nossas casas, nas nossas universidades e no mercado de trabalho. É parte da atual sociedade brasileira, algo que é bastante preocupante, visto que mais de 54% da população se declara como preta ou parda.
       Estudos mostram que, entre os anos de 1550 e 1850, cerca de 12 milhões de africanos escravizados foram trazidos ao Brasil, e que, durante esses 300 anos, a cada 100 estrangeiros que entravam no Brasil, 86 eram africanos escravizados. O Brasil é fundamentalmente formado por africanos e, mesmo assim, as escolas não ensinam seus alunos sobre história da África, quais são suas origens e seus heróis. Muito pelo contrário, aos 10 anos, somos apresentados ao conto da princesa branca que, quase num ato de misericórdia, concede a abolição aos escravos e, ao fazer isso, excluímos todas as lutas que os negros tiveram que travar para conquistar a abolição.
       Racismo estrutural não é só o uso de expressões, como "mulata/o", "da cor do pecado", "gente de cor" ou "Me empresta o lápis cor de pele?”; é uma série de obstáculos que impedem o negro de conquistar lugares que o banco conquista apenas por ser branco, e isso não é de agora, na verdade, começou quando o Brasil era colônia e ganhou força com a abolição da escravatura.
        No dia 13 de maio de 1888, graças a pressões internas e à luta de pessoas, como Luísa Mahin, Luís Gama e Chico da Matilde, a escravidão no Brasil foi abolida e mais de 1,5 milhões de escravos foram "libertos", mas sem amparo, sem infraestrutura, sem empregos, sem renda e, como se não bastasse, a elite resolveu tomar uma série de medidas legislativas e populares para marginalizar o negro na sociedade. Um grande exemplo disso é que, após a abolição, as mulheres negras foram hipersexualizadas e tratadas como prostitutas e os homens negros foram transformados em vagabundos, em vadios, em preguiçosos e passaram a ser culpados pelo tráfico de drogas, de armas e de outras mercadorias. A dúvida que fica é: Como alguém que se encontra(va) em situação de extrema pobreza é capaz de financiar tudo isso?
         O Brasil é um país que foi construído por negros, por pobres e por índios, mas é controlado pela branquitude. A luta contra o racismo estrutural só vai dar certo quando a branquitude entender que, querendo ou não, eles possuem privilégios e que esses privilégios devem ser usados para integrar a causa antirracista. Falar sobre racismo estrutural ainda é uma grande tabu, isso porque parte da sociedade acredita que o Brasil não é um país racista. Falar que não existe racismo no Brasil é ignorar que os negros continuam sendo minoria nas universidades, na política, no sistema judiciário e na elite econômica, mesmo sendo 54% da população.
          Estude sobre como é o racismo no Brasil, entenda quais são suas principais causas e efeitos, falar sobre racismo é um ato político e ser antirracista é uma obrigação. 

          Racismo. Ou você combate, ou faz parte.
        Ruam Vitor Barbosa Moreira, aluno do 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Dr. Lauro Corrêa do Amaral.

A educação em época de distanciamento social

Segunda Edição

Publicado em 15/05/2020, por Cristiane Costa da Fonseca Cintra - Fala aí, galera - CRA News.

       Nas últimas semanas, nossa vida mudou. Quase todas as pessoas do planeta e, mais especificamente, do Brasil já foram afetadas de alguma forma pela pandemia causada pelo novo coronavírus. Mesmo que você, seus parentes e seus amigos não tenham contraído o famigerado vírus, o isolamento social, necessário para conter ou, pelo menos, desacelerar sua propagação, produziu efeitos imediatos no seu cotidiano.

           Para evitar aglomerações, inevitavelmente, todo o sistema escolar foi atingido, pois circulam mais de 50 milhões de alunos e quase 3 milhões de professores diariamente nas escolas e nas faculdades espalhadas pelo país. As aulas presenciais foram suspensas e as escolas precisaram agir rapidamente.

          Mas não foi e não está sendo nem um pouco simples essa transição para as aulas em casa. Algumas universidades públicas bem que tentaram atender às necessidades dos seus estudantes com um regime especial de estudos. Com uma variedade de cursos, nada mais normal existirem disciplinas ainda mais distintas que demandam recursos educacionais diversos, sem falar nas aulas práticas. Com alunos vindos de todas as partes do país, muitos sem acesso à internet, notadamente o regime citado não estava sendo democrático, sendo necessário paralisar o semestre letivo. As secretarias estaduais de educação, sabendo da realidade socioeconômica de seus alunos, preferiram paralisar as aulas das escolas públicas da educação básica assim que a pandemia se instalou no país.

            As escolas e as universidades particulares optaram por oferecer aulas e conteúdos on-line aos seus alunos. Essa nova realidade tem exigido de seus profissionais e também de seus estudantes e familiares novas habilidades e, por consequência, conferindo-lhes novos conhecimentos. Colocar o conteúdo em programas de apresentação de slides não é novidade para nenhum professor, mas, para muitos, gravar videoaulas, fazer atendimento remoto e, até mesmo, perceber se seu aluno tem dúvidas através de uma tela são grandes desafios, já que a qualidade do ensino sempre será nossa preocupação. Do outro lado, também são apresentados novos desafios aos alunos. Estudar em casa, com sua família ao lado, exige concentração, disciplina e força de vontade. Mas, sem dúvidas, ao fim deste período, nossos alunos terão desenvolvido sua autonomia e sua autoconfiança; já o sucesso desse novo modelo de educação também depende de como reagiu a tantas mudanças.

                Se há um lado positivo (e eu acredito que há mais de um) nisto tudo que estamos passando é o fato de que a sociedade que não valoriza como deveria o conhecimento científico, a educação e o trabalho do professor perceberá que, até mesmo, altas tecnologias não valem de nada sem um professor para ensinar.

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Cristiane Costa da Fonseca Cintra, professora de Matemática, mestre em Estatística.

Professora do Ensino Fundamental II do Colégio CRA e atualmente professora substituta do Departamento de Matemática da Unifal-MG.

É necessário educar o sistema educacional?

O atual modo perpetua, ou apenas tenta perpetuar, a criação de massas voltadas ao trabalho e não foca na gênese de agentes transformadores da sociedade

Publicado em 15/05/2020, por Victor Augusto Neder Santos - Fala aí, galera! - CRA News.

       É comum vermos pessoas com talento para a arte, seja na música, na imagem ou na escrita, tendo tempo reduzido para suas expressões artísticas ou para a melhora dessas, pois essa pessoas estão na escola, ouvindo seu professor falar sobre a função de uma mitocôndria ou a força resultante na colisão de partículas. E, quando levantam o recorrente questionamento: "Por que eu preciso aprender isso?", obtêm a temida resposta: "É necessário para o vestibular" ou "Saber nunca é demais".

       Nesse ínterim, o aluno, desinteressado pelas instruções passadas a ele por um professor, desde quando tinha cinco anos até o final de sua graduação, não é parte ativa do aprendizado, o que leva a não-absorção mínima daquele conteúdo que foi passado,  demonstrando, assim, a inviabilidade do sistema educacional atual em sua essência.

       O conhecimento, fator tão necessário à sociedade e responsável por todo o progresso tecnológico e informacional alcançado, é desprezado, haja vista a maneira com que é transmitido às novas gerações.

       Como se não bastasse uma análise da superfície do contexto em que nos encontramos para ver a falha inerente presente na educação atual, se nos aprofundarmos em dados da situação brasileira, a situação mostra-se ainda mais calamitosa: segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA, em inglês) de 2018, dois terços dos estudantes brasileiros de 15 anos sabem menos que o básico de matemática, figurando entre os 10 piores desempenhos do mundo, além do país figurar na posição 57 dentre 77 países no quesito leitura.

       É necessária, portanto, uma revisão profunda nos moldes da educação, adotando novos métodos que façam o ensino ser prazeroso e ativo por parte do aluno, a fim de que este se interesse desde pequeno pela ciência e mude os paradigmas atuais.

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Victor Augusto Neder Santos, aluno do 3º ano I do Ensino Médio.

Você conhece as novas propostas para o Enem?

Publicado em 15/05/2020, por Amanda Viana Costa da Silva  - Fala aí, galera - CRA News.

       O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado no ano de 1998, com o intuito de avaliar a qualidade do ensino médio e, posteriormente, possibilitar a entrada de alunos colegiais em universidades públicas de todo o país. No mês de março deste ano, foi anunciada pelo Ministério da Educação (MEC) a aplicação do Enem Digital em todo território brasileiro. Desse modo, por ser um modelo novo, quais são os benefícios? E os desafios?

       Em primeiro plano, é crucial destacarmos as melhorias que as reformas na aplicação da prova podem acarretar. Sob esse viés, o Enem é o maior exame do Brasil, com cerca de 6 milhões de participantes inscritos por ano. Contudo, é necessário salientar os gastos na fabricação das provas impressas, com um custo aproximado de R$ 538 milhões, em decorrência da quantidade de papel e de tinta utilizados, da impressão, do transporte e do armazenamento. Assim, com a digitalização do exame, podemos perceber a possibilidade da economia de recursos para fabricar os cadernos de questões. Além disso, é esperada a otimização do processo, em especial no que tange à interatividade na resolução das questões, dado que, hoje em dia, a maioria dos participantes tem uma maior afinidade com os meios digitais.

       Em oposição a esses fatores, a digitalização do Enem também apresenta pontos negativos, sendo necessário destacá-los. Seguindo essa lógica, um cenário que devemos analisar é a desigualdade, visto que o novo modelo de prova necessita de infraestrutura e de acesso a computadores de qualidade. Tal conjuntura apresenta entraves, pois nem todas as escolas e/ou regiões do país possuem tais requisitos para o cumprimento do exame. Ademais, podemos perceber que, apesar da facilidade proporcionada pelas plataformas digitais, muitos participantes podem encontrar dificuldades na resolução das questões no Enem Digital, em virtude da falta de preparo para tal modelo de prova. Por exemplo, durante esse período de quarentena em decorrência da pandemia, diversas escolas privadas estão oferecendo provas digitais para seus alunos, preparando tal parcela para esse tipo de avaliação, enquanto muitas instituições públicas não detêm tal recurso.

      Em suma, independentemente do método utilizado na aplicação do exame, percebemos a importância do Enem para os vestibulandos e a necessidade de aprimoramento em ambos os modelos, visando, por exemplo, a uma maior segurança de dados e de questões, mais acessibilidade para o cumprimento da prova e à redução do tempo de correção. Assim, percebemos que mudanças são necessárias e trazem diversos benefícios, entretanto também acarretam desafios e receios, sobretudo em um momento tão decisivo e tão incerto no qual nos encontramos.

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Amanda Viana Costa da Silva, aluna do 3º ano I do Ensino Médio.

Primeira edição

Ambos os caminhos convergem para o caos

A luta contra o COVID-19 impõe uma linha tênue entre a "proteção" fornecida pelo isolamento e a crise iminente

Publicado em 31/03/2020, por Victor Augusto Neder Santos - Fala aí, galera! - CRA News.

     Desde o início do surto do novo coronavírus, observamos um confronto entre aqueles que defendem o isolamento social e a permanência da população em suas casas e aqueles que querem sair de suas habitações, seja pela despreocupação com a doença, seja pelo medo da falta de recursos. Tal situação evoca, dentre vários outros, um questionamento pertinente: as duas formas de lidar com a problemática não trariam sequelas sociais extremamente difíceis de lidar?

       O isolamento generalizado das pessoas, pelo menos no contexto nacional, tem sido via de regra em várias localidades. Auxílios financeiros para os que não conseguem arcar com as despesas cotidianas sem o salário já foram anunciados. Inúmeros estabelecimentos e empresas já estão parados, com patrões e funcionários no conforto de suas casas. Mas até que ponto tal atitude é viável? O jornal Folha de São Paulo noticiou, na noite de domingo (29), o caso do saque de um supermercado na zona leste de São Paulo. Tal fato demonstra que a necessidade já bateu à porta de algumas famílias e que a paralisação do trabalho de maneira nacional pode levar ao caos social.

         Além desse problema, há também o conflito entre economia x isolamento. A cada dia a mais com o país parado, as finanças nacionais sentem: empresas demitem funcionários ou adiam seus pagamentos, num contexto em que estes perdem o poder de compra, deixando de consumir itens antes consumidos e fazendo com que as empresas quebrem, o que gera uma bola de neve imparável que persegue o capitalismo nacional e mundial. Nesse contexto, uma "simples" demissão pode causar um impacto gigantesco na economia, já que é intrinsecamente interligada.

         Chega-se, então, à dialética final: voltar ao normal para reiniciar os motores da economia e sofrer com o vírus, ou ficar em casa, protegendo-se do vírus, mas sofrendo com a crise?

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Victor Augusto Neder Santos, aluno do 3º ano I do Ensino Médio

Origem e efeitos do pânico que acompanha as pandemias

Publicado em 26/03/2020, por Mateus Hirata - Fala aí, galera! - CRA News.

      

       O momento atual está sendo marcado por uma ocorrência incomum: vivemos uma pandemia, termo definido pela Organização Mundial da Saúde como a disseminação de uma doença a nível global. Perante uma situação tão séria quanto esta, a reação espontânea de grande parte das pessoas é o medo culminante no pânico, o qual é desfavorável ao funcionamento da sociedade em todos os aspectos. Por isso, cabe a nós analisar as razões desse pânico desmedido, bem como suas implicações.

        Inicialmente, para que haja qualquer tipo de reação a um evento, é necessário que aqueles que reagem tenham alguma informação acerca do ocorrido, o que não significa que essa informação seja verdadeira e/ou imparcial. Isso se aplica a todos os tipos de acontecimentos, incluindo as pandemias. Por isso, pode-se restringir a principal causa das reações - dentre as quais o pânico se inclui – à qualidade e à quantidade das informações obtidas pelas pessoas acerca do evento. Para melhor visualização, classifiquemos os indivíduos quanto ao nível de informação possuído por eles em: bem informados, parcialmente informados ou não informados e mal informados.

        Pessoas bem informadas tendem a possuir uma boa noção dos acontecimentos, no nosso caso, da gravidade da pandemia. Suas informações são obtidas a partir de fontes confiáveis e passaram pelo senso crítico individual. Por consequência, essas são as pessoas que, no nosso cenário, agem com cautela, sem sucumbir ao desespero. No entanto, é possível que aconteça, mais raramente, que os indivíduos tenham acesso a uma quantidade excessiva de informação, o que pode levar, segundo a Associação Americana de Psicologia, a um quadro de estresse, o qual pode ter como efeito a inefetividade do senso crítico, levando a pessoa a agir sem um nível elevado de consciência.

     Aqueles que se encontram parcialmente informados ou não informados são mais suscetíveis a agirem de acordo com uma expectativa própria de pior caso possível ou em conformidade ao efeito manada, verificado em situações de incerteza, no qual o indivíduo age conforme as ações de um grupo, justamente por não possuir a visão completa da situação. No caso das pandemias, um exemplo disso é o “panic buying”, ou compras induzidas por pânico, em que as pessoas compram determinados produtos em excesso e causam o esgotamento de tais nos estabelecimentos, bem como (indiretamente) a subida dos preços, em detrimento daqueles que vivem de acordo com um orçamento limitado.

       Por fim, os indivíduos mal informados receberam informações falsas como sendo verdadeiras, o que leva a várias reações distintas, mas todas igualmente prejudiciais ao funcionamento da sociedade. A título de exemplo no nosso contexto, observamos, em um extremo, a colocação da COVID-19 como nada mais que uma gripe exagerada pelas mídias, levando a um descaso as medidas de prevenção e, em outro, teorias conspiratórias que designam a mesma doença como uma arma biológica, criando um clima de paranoia adicional que em nada coopera para a contenção e para a prevenção da infecção.

       As duas últimas classificações são particularmente incentivadas pelas redes sociais, uma vez que há o controle do que se deseja compartilhar. Contudo, isso também significa que as mesmas redes podem ser usadas para espalhar a informação correta, assim como para tranquilizar as pessoas e espalhar pontos de esperança em meio a esta crise. Como exemplo desses pontos de esperança, é interessante notar as ações solidárias praticadas especialmente para as pessoas em autoisolamento, como os serviços de ajuda voluntária aos idosos para, por exemplo, fazer compras ou mesmo conversar – virtualmente, é claro. Além disso, este momento de pandemia nos é particularmente útil para relembrar a importância de se zelar pelos processos emocionais humanos, em virtude de sua imensa influência nas ações dos indivíduos e, por consequência, nos rumos da sociedade.

       Isso nos traz, portanto, à conclusão. De acordo com Steven Taylor, psicólogo, professor e autor da obra “The Psychology of Pandemics” (“A Psicologia das Pandemias”, em tradução livre), as pandemias são causadas e contidas pela maneira como as pessoas se comportam, e acabamos de abordar um dos aspectos desse comportamento. Isso sugere certo grau de responsabilidade do corpo social em relação à disseminação de doenças, especialmente no que tange à consciência que uma pessoa possui em relação às próprias ações e como elas afetam o todo, salientando também a importância do senso crítico para a vivência social.

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Mateus Hirata, aluno do 3º ano II do Ensino Médio

A divulgação da desinformação

Publicado em 26/03/2020, por Beatriz Melo - Fala aí, galera! - CRA News.

       A Terceira Revolução Industrial (1900 - até hoje) é um dos principais motivos de os meios de comunicação terem se expandindo com tanta excelência. Como consequência, temos um maior acesso às informações em curtos intervalos de tempo. Porém, muitos desses conhecimentos não são correspondentes com a verdade, sendo espalhados, muitas vezes, pela falta de informação das pessoas. Essas notícias falsas são mais conhecidas como“Fake News”.

           As redes sociais fazem parte do entretenimento humano e, por terem muitas pessoas acessando-as, a propagação das fake news aumenta nessas plataformas. O Twitter e o Facebook são exemplos dessas redes, sendo espalhadas as notícias, na maioria das vezes, por meio de bots - programa autônomo.

        Em 2016 e 2019 (épocas de eleições), essas notícias cresceram muito, não só para falar sobre a política em si, mas também para outros tipos de órgãos, como afirma Roberto Olinto (ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístico - IBGE), em uma palestra promovida pela Associação Nacional de Editores de Revistas: “Ainda tem essa novidade do fake news, que afeta a gente. Volta e meia sai uma notícia que, associada a alguma questão econômica, social, [dá a entender que] o IBGE está envolvido nessa confusão”.

         Outro exemplo de que as fake news estão se espalhando é sobre a nova pandemia, o coronavírus. Pessoas estão gerando desinformações, o que leva as outras ao pânico. Um exemplo de fake news é que “produtos de origem chinesa podem estar infectados”. Essa informação não corresponde com a verdade, pois não há nenhuma evidência de que produtos chineses podem trazer o coronavírus e, de acordo com a Agência Nacional da Vigilância Sanitária (Anvisa), apesar de não haver restrições sobre os produtos e alimentos fabricados na China, eles estão monitorando aeroportos, portos e fronteiras.

       Para determos essas correntes de desinformação, devemos sempre checar as fontes da notícia, indo a vários sites de confiança para confirmar o ocorrido. Portanto, sempre desconfie do que está imposto nas notícias (principalmente, para compartilhamento), pois nem sempre o que está escrito é verídico.

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Beatriz Melo, aluna do 1º ano II do Ensino Médio

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